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Kung Fu em chinês representa “tempo e habilidade” ou “trabalho duro”. O termo se expandiu com a imigração de chineses para a América.
A palavra consegue descrever bem o rigor pelo qual o aluno passa no treinamento. É literalmente um processo de lapidação do corpo e mente, onde sempre se busca
o aprimoramento.

A história do Kung Fu envolve muitas lendas. Os primeiros registros foram encontrados em ossos e cascos de tartarugas da dinastia Shang, contudo, acredita-se que a arte tenha aparecido antes disso.
O estilo do punho ou Ch’uan fa, como era chamado o Kung Fu no começo, se popularizou quando os guerreiros de Chou da China Ocidental derrotaram o monarca da dinastia Shang em 1122 a.C.
Mais tarde, em 770-481 a.C, na Era da Primavera e do Outono, a corrente ganhou outro nome, Ch’uan Yung, e cresceu. Nos Estados Guerreiros, muitos estrategistas passaram a valorizá-lo mais na construção do forte exército.
Dos vários mestres que surgiram, muitos eram mulheres. Uma delas, Yuenu, foi convidada pelo Imperador Goujian para expor suas teorias. O termo oficial para o Kung Fu naquela época era Chi Chi Wu.
Posteriormente, nas dinastias Ch’in e Han, passou a se chamar Chi ch’iao. Várias novas armas foram incorporadas à arte e o Taoísmo começou a influenciar a filosofia de luta.
Na era Chin e nas dinastias do Norte e do Sul, um famoso médico e filósofo taoísta inseriu chi kung (exercícios respiratórios) na arte marcial.
Ge Hong baseou-se muito na pesquisa de seu antecessor Hua T’o, que durante o período dos Três Reinos criou um método de movimento e respiração chamado Wu Chien Shi, baseado na imitação dos movimentos do pássaro, veado, urso, macaco e tigre.
O desenvolvimento do Kung Fu ocorreu durante os governos do Norte e do Sul, quando o principal regime político atacou a área central da China e a ordem social foi rompida, o que motivou um crescente interesse pelo estudo religioso.
Entre as muitas figuras que entraram no país, estava Bodhidharma, um mito do Budismo. A figura iconoclasta, também conhecida como Ta Mo, Dharuma e Daruma Taishi, foi o terceiro filho do rei indiano Sugandha e membro de uma casta guerreira.
Passou a infância em Conjeeveram, uma pequena província budista no sul de Madras, e recebeu treinamento em meditação do mestre Prajnatara.
Bodhidharma foi um excelente discípulo, tanto que quando seu professor morreu, continuou o legado, mas na China. De acordo com algumas lendas, para chegar à província Honan, atravessou o rio Yuang-Tse em um bambu e estabeleceu-se no templo Shaolin.
Ao chegar ao local, meditou em frente a uma parede por nove anos. Foi ainda no monastério que fundou o Budismo Ch’na e o Kung Fu Wushu. Por ser um mosteiro, cogita-se que Shaolin tenha abrigado muitos fugitivos da justiça e guerreiros hábeis. Lá, eles se tornaram grandes monges.
Disposto a oferecer qualidade de vida aos colegas de confinamento, Bodhidharma criou uma série de exercícios que ajudaram a unir a mente e o corpo. Décadas depois, o conjunto de técnicas foi batizado de Kung Fu. Com o Kung Fu Wushu Shaolin firmemente implantado na China, surgiram milhares de estilos. No final dos anos 1960, em decorrência dos filmes de artes marciais de Hong Kong, especialmente os de Bruce Lee, e aos seriados de tv, como o que foi estrelado por David Carradine, a expressão fincou raiz.

kung fu no Brasil

Na década de 1960, Chan Kowk Wai, Chiu Ping Lok e Wong Shing Keng implantaram o Kung Fu/Wushu no Brasil. Inicialmente, ensinaram apenas para a comunidade chinesa, porém, depois de alguns anos, instruíram os brasileiros.
Rapidamente, a modalidade se difundiu no país, o que precisou de uma melhor organização. Em maio de 1992, foi fundada a Confederação Brasileira de Kung Fu/Wushu (CBKW), que conta com 24 estados filiados.
É organizadora de cursos de aprimoramento técnico, intercâmbios e o Campeonato Nacional, com uma média de 650 participantes. Além disso, forma a equipe oficial que representa o país em Campeonatos Sul-Americanos, Pan-Americanos e Mundiais.
Também ajudou a fundar a Federação Internacional (IWUF) e a Federação Pan-Americana de Wushu. O Brasil tem vários medalhistas em Campeonatos Mundiais e inúmeros vencedores em Pan-Americanos e Sul-Americanos, além de grandes árbitros.
Apesar do Wushu ainda não fazer parte dos Jogos Olímpicos, em 20 de dezembro de 2000, a CBKW foi reconhecida pelo Comitê Olímpico do Brasil (COB) como entidade.
A CBKW tem 5 mil atletas federados, mas estima-se que o número de praticantes no país supere a marca de 100 mil. O Kung Fu está em constante evolução e abrange o uso de armas como espada, lança, bastão e facão.
Na infância, Chan Kowk Wai assistia escondido às aulas do estilo Choy Li Fat, ministradas pelo mestre Chan Cheok Sing. Certa vez, foi descoberto por um dos alunos, e levado ao mestre. Ao invés de repreendê-lo, Sing o aceitou como aluno, por seu interesse e dedicação. Dos quatro aos 14 anos, treinou exclusivamente o estilo Choy Li Fat.
Em 1949, com a proclamação da República Popular da China, mestre Sing se mudou para Hong Kong. Então, com seu tio, Ma Kim Fong, Chan aprendeu Lo Hon Kuen, um dos estilos criados no templo de Shaolin.
Outro grão-mestre, Yim Sheung Mo, chegou em Hong Kong e ficou hospedado na casa da família Kwok Wai. Este mestre acabou por estabeler sua escola no local e com isso, Chan teve a oportunidade de aprender Shaolin do Norte, treinando e aprendendo dia e noite.
Em 1960, Chan Kwok Wai chegou ao Brasil. Ele participou da formação do Centro Social Chinês, onde ministrou aulas de Kung Fu por 12 anos e lecionou na Universidade de São Paulo (USP) por sete.
Em 1973, fundou a Academia Sino-Brasileira de Kung Fu, onde desde então vem formando vários mestres e professores que levam o conhecimento do Kung Fu para todo o mundo.
Aos quatro anos, Chiu Ping Lok, começou a praticar Kung Fu com seu tio, Tam Sai Sil. Aos 15, sua família deixou Hong Kong, e teve contato com outras modalidades de expressão artística e artes marciais que foram de grande valor para sua formação, entre elas, o Tai Chi Chuan, estilo em que aprofundou os estudos.
Mestre Man Sim, um instrutor cego (amigo de seu tio), aprendeu a transmitir uma habilidade extra sensorial desenvolvida por causa de sua deficiência física e, com ele, Chiu Ping Lok aprimorou sua percepção em um grau extremamente alto e refinado.
Lok também tinha um amigo, cujo pai trabalhava em uma indústria cinematográfica. Com ele adquiriu experiência em vários estilos e métodos de combate, tendo atuado, inclusive, como figurante.
Em 1961, então com 24 anos, chegou ao Brasil. A adaptação à nova cultura ocorreu naturalmente e a acolhida do povo brasileiro contribuiu para conquistar o jovem chinês que passou a lecionar Kung Fu durante todos os finais de semana, no Centro Social Chinês de São Paulo, a partir de 1963.
Lok foi o pioneiro da Arte Folclórica Chinesa da Dança do Leão e representante da Associação Internacional de Dança do Leão e Dragão no Brasil, desde 1961.
De 1969 a 1974, a Academia Tai Chi Yoga e Kung Fu, em Santo André, São Paulo, esteve em atividade e é considerada a primeira academia de Kung Fu registrada no país.
Chiu Ping Lok faleceu em 2009.

Marco Natali

foto do mestre

Wong Fei Hung

foto do mestre

Yip Man

foto do mestre